quarta-feira, dezembro 26, 2012

nāscor


A palavra natal provém de nātālis, uma palavra derivada do verbo latim nāscor (nascer).

Como adjetivo, significa também o local onde ocorreu o nascimento de alguém ou de alguma coisa e, nos países eslavos e ortodoxos, cujos calendários eram baseados no calendário juliano, o Natal é comemorado no dia 7 de janeiro), originalmente destinado a celebrar o nascimento anual do Deus Sol no solstício de inverno (natalis invicti Solis)*: nos primórdios dos tempos, o Homem assistia ao diminuir do dia, fenómeno progressivamente aterrador principalmente a partir do equinócio de setembro, em que as trevas ganhavam terreno à luz do Sol. No solstício de inverno, a tendência alterava-se, trazendo nova esperança com o novo ciclo da vida.

Ironicamente (ou talvez não), estava “previsto” o fim do mundo para a data do solstício de inverno, no passado dia 21. Não aconteceu (pelo menos, que tivéssemos dado por isso… e digo isto com o mínimo de ironia possível. Matéria para outra volta…).

Voltando ao fio da meada, entre o dia 21 de dezembro e o dia 7 de janeiro assistimos a uma série de (re)nascimentos: o solstício, a celebração do Natal cristão, o nascer de um novo ano.

Assim, o inverno é, também ele, uma época de renovadas esperanças.

Este artigo é especialmente dedicado a todos os que se sentem, de um modo ou de outro, como uma tarde invernosa: tal como as árvores de folha caduca, também nós precisamos de um intervalo para recuperar forças. Mas com a certeza que o Sol lá estará para nos ajudar a despertar de novo.

E haverá melhor tema para terminar do que o "Jardim de Inverno", com a voz fresca da Susana Félix?

Mas eu fiquei,
me levantei,
o sol nasceu p'ra mim .
No meu quintal
nasceu novo jardim.

Boas Festas a todos! E façam-me o favor de serem felizes!



* - Adaptado da Wikipedia

sábado, novembro 03, 2012

O exemplo da Islândia...



A Islândia é um país que, com uma área total um pouco superior à de Portugal (cerca de 100.000 km2, números redondos), tem menos de 320 mil habitantes (cerca de 3% da população portuguesa). E é uma ilha.

Este é um vídeo que retrata o que por lá aconteceu desde 2008, e que vi recentemente a circular no facebook:

É certo que a recente história da Islândia tem aparecido em círculos muito restritos (assisti, no início deste ano, a dois documentários muito interessantes sobre este tema, de uma série de quatro escolhidos pela Apordoc – contavam-se pelos dedos das mãos quantas pessoas assistiram a estas sessões na sala do Nimas, em Lisboa…)

Mas até que ponto é que, mesmo que aparecesse nos círculos ditos “normais”, serviria de exemplo para alastrar a outros países? Até que ponto é que Portugal pode (quer) seguir este exemplo? Ou o resto da Europa?
Não que eu não gostasse de ver este assunto debatido a sério. Principalmente nas ruas, em tertúlias de pessoas interessadas em mudar as coisas de facto e não apenas nos canais de informação e debate que, por vezes, se tornam elitistas (seja por culpa dos que estão do lado de lá dos media, seja por desinteresse generalizado dos que estão do lado de cá… mas também não é meu intuito entrar no campo das razões para que isto aconteça).

Voltando ao assunto, e voltando ao que vi nos documentários sobre a vida quotidiana do povo islandês entre 2008 e 2011, recordo-me particularmente dos problemas sociais e económicos retratados em “The Future of Hope”, cujo desenrolar de acontecimentos se focaliza nas ações que desabrocharam fruto da resiliência de indivíduos e da comunidade em si. Muito inspirador. Tal como o vídeo que se apresento no início do artigo.
Citando o meu amigo Skopos: “Em The Future of Hope, vemos e ouvimos os testemunhos de diversos islandeses comuns: um empresário arruinado, um professor universitário,  um agricultor biológico, pessoas reformadas, jovens. Ouvimo-los em plena crise. E falam dela com um sorriso, com ideias e com vontade de mudar. Metanoia, já diziam os gregos: mudança de mentalidade. Limpar a casa, deitar fora o que não interessa. E participar ativamente no percurso da sociedade.”

Aqui fala-se de sorrisos. E são sorrisos verdadeiros, sorrisos de alma completa. Sorrisos que resultam de processos interiores muito fortes: uma mudança deste tipo é algo que é muito trabalhoso e demora a dar resultados práticos na vida das pessoas, passando, no ponto em que estamos, por processos muito dolorosos.
Este tipo de mudança não se coaduna, de modo nenhum, com a perspetiva quase obsessiva de melhorias a curto/médio prazo, muito menos com o “voltar” ao modo facilitista com que nos habituaram a viver nesta sociedade de consumo. Tal como já tinha escrito antes, existe atualmente uma muralha de indiferença apática e generalizada que se gerou com a preguiça mental induzida na sociedade do crescimento que, sufocantemente, reina nos dias de hoje. E uma inércia muito forte, uma resistência a mudar, quando essa mudança implica repensar todo um modo de vida, todo um status quo instalado…

O vídeo que se segue dá uma ideia de uma das questões mais prementes hoje em dia: dívida. Nem é preciso compreender todo o texto do artigo onde o encontrei: para bom entendedor, as imagens são suficientemente esclarecedoras.


Estamos preparados para passar, à nossa escala, por tudo que os Islandeses passaram e ainda estão a passar?

Eu gostava que houvesse um grupo representativo de pessoas com capacidade de agir e meios para o fazer a responder SIM a esta questão sem hesitação. Se aí estiverem, contem comigo.

A alternativa é, a meu ver, igualmente dolorosa, arrastando-se por muito mais tempo e não trazendo resultados tão consolidados.

segunda-feira, setembro 10, 2012

PPPs: um exemplo de PQP

Segundo o site da Direção Geral do Tesouro e Finanças, numa secção intitulada "As PPPs em 7 questões", a resposta à questão 3 (Porque se lança uma PPP ) é:
"Constituem finalidades essenciais das PPP o acréscimo de eficiência na afectação de recursos públicos e a melhoria qualitativa e quantiativa do serviço, sendo aplicável a projectos cujo desenvolvimento requer, da parte dos parceiros, elevadas capacidades financeira, técnica e de gestão de recursos e a manutenção de condições de sustentabilidade adequadas durante a vida do contrato".

Ora, ouvi eu hoje, no programa "Olhos nos olhos", cujo convidado da semana foi Avelino Jesus, que:

  • A aplicação prática do modelo das PPPs, em Inglaterra é perfeitamente transparente: a divulgação de informação contém todos os elementos necessários a compreender os cálculos, ou seja, anexos com números (reais...).
  • Em Inglaterra chegaram à conclusão que, face a metodologias tradicionais de construção e exploração, o aumento de despesa da aplicação de um modelo de PPP numa concessão de uma rodovia é de 47%.
  • Adicionalmente, e também em Inglaterra, chegou-se à conclusão que 7% da despesa vai parar às mãos de consultores.
  • Repito: os intervenientes do programa afirmavam que, em Inglaterra, as coisas são transparentes.
  • Em Inglaterra, chegou-se à conclusão que o modelo das PPPs não traz vantagens, na prática.
  • Em Portugal, os relatórios não trazem anexos, ou seja, não há informação suficiente, com números, que permita uma análise imparcial e objetiva dos processos das PPPs associadas a rodovias (SCUTs e outras que tais);
  • Em Portugal existem trabalhos (doutoramento no ISEG)* que levam a valores de diferença entre custos reais das PPPs e custos previsíveis em metodologias tradicionais que ascendem a 80%. 80%... 80%!!
  • Volto a repetir a ideia de transparência dos 47% em Inglaterra contra os "presumíveis" 80% em Portugal, onde "um dos cd que foram enviados ao grupo [que reavaliava as PPPs] estava em branco
  • Quando refutado por certas e determinadas pessoas com argumentos do tipo "ah, mas sabe que há sempre derrapagens, mesmo em metodologias de construção/exploração tradicionais", Avelino Jesus responde com os dados de um mestrado, também do ISEG, que estudou (se não me falha a memória)* 164 casos de obras públicas deste tipo com derrapagens, entre 1999 e 2011. Média: 32%...

*  perdoem-me as ideias vagas, mas estou tão danada que nem consigo lembrar-me bem do que ouvi

O que resta dizer?

Talvez "fuck'em very much".
Ou melhor: Putas ao poder, que os chulos já lá estão... HÁ DÉCADAS!
(E os que já lá não estão, andam para aí a passear-se impunemente)

domingo, setembro 09, 2012

Jazz em blogue português


Com a assinatura de João Moreira dos Santos, aqui está um contributo que irei acompanhar sempre que possível:

http://jnpdi.blogspot.pt/

sexta-feira, agosto 31, 2012

Amanhecer


"Afinal, o futuro é uma mistura de decisões e acaso, que é o nome que se chama àquilo que se desconhece. Era decidir o que fazer e esperar o que viria."

In "Cassiopeia", de um anónimo que sei quem é mas que, como não assinou, vai ficar assim mesmo.

sexta-feira, agosto 03, 2012

Tempo de parar.



A confluência das ideias que transmito no meu último blog * com a minha recente escolha pessoal e profissional vem resumidamente espelhada num livro que anda cá por casa nas mesinhas de cabeceira: “Viver sem chefe”, de Sergio Fernández, dedicado aos empreendedores deste mundo.

* (acrescimento.wordpress.com


Em mais uma publicação que parece que me caiu no colo no momento certo (como tem acontecido com alguns livros no último punhado de anos), o autor refere-se ao Downshifting (descer de categoria profissional para ganhar mais tempo ou qualidade de vida) e ao que ele classifica de “Achar que é preciso crescer sempre” nas páginas dedicadas ao “Erro 5 – Já morreu de sucesso?”.

(Como nota adicional, o capítulo tem uma imagem com a legenda “O seu negócio é uma bonsai ou uma sequoia?”) :)

Transcrevo algumas passagens que, para mim, neste momento em particular, fazem todo o sentido do mundo:

“(…) Cada vez há mais pessoas com a certeza de não quererem subir mais. (…)
Não lhe direi que pare de crescer económica e profissionalmente, nada mais longe da minha intenção, mas digo-lhe, sim, que pense se quer crescer de forma indefinida (…)
Para qualquer estrutura económica, não importa o seu tipo nem a que se dedica, existe uma zona crítica na qual ter sucesso implica deixar de ter sucesso. Porquê? Porque a carga de trabalho impede o cumprimento diligente das obrigações contraídas. () há um momento em que é mais sensato dizer “não”. (…)
Muita luz é como demasiada escuridão: ambas não deixam ver. Aspirar a crescer e a superar-se é uma condição do ser humano, mas é preciso saber fazê-lo, caso contrário depressa se verá numa situação em que o seu trabalho deixará de o satisfazer e, paradoxalmente, isso acontecerá por tê-lo em demasia.
(…) crescer sempre e de modo indefinido, em termos económicos, não é uma obrigação, mas uma opção. O sucesso foi inventado para ser desfrutado. Por favor, não morra de sucesso.”

Já diz o povo “o caminho faz-se caminhando”. Mais um passo gratificantemente doloroso no meu percurso de crescimento pessoal. Sigo em frente, porque “para trás mija a burra”.

sábado, junho 23, 2012

Parece que está aí o tempo quente...


Como disse no facebook, acho que são uma ideia muito agradável como alternativa à “marmita” tradicional ou para levar para um piquenique simplificado.

Não, não foi tirado da minha cabecinha… tenho pena, mas não foi: vem do site www.neatpins.com
Vejam como são bonitos:


Aqui estão as dicas de realização, para qualquer receita:
1. Colocar o molho no fundo e os vegetais mais sensíveis (tipo alface), na parte superior. Se os dois ficarem em contacto, as verduras vão “cozer”.
2. Então, o molho em primeiro lugar. Logo por cima, utilize um pouco de legumes "carnudos", como repolho picado, vagens de ervilha, ou palitos de cenoura. Eles podem suportar a acidez do molho, “marinando”, e realmente ficar melhor!
3. Quando o colocar no frasco de vidro ou na caixa de plástico (obviamente transparente, para dar o efeito pretendido), use uma boa variedade de vegetais coloridos! Torne-o divertido: envolva as crianças no processo.

Aqui estão as receitas do site, adaptadas para português (as camadas estão indicadas por ordem, de baixo para cima):

Sementes de Papoila:

Molho com sementes de papoila
Cenoura aos pedaços ou tirinhas
Ervilhas
Ananás ou abacaxi
Mirtilos
Framboesas
Alface


Ásia:

Molho temperado com gengibre
Vagens de ervilhas ou ervilhas-chatas
Cenoura aos pedaços ou tirinhas
Repolho aos pedaços ou tirinhas
Nozes de Macadamia
Ervilhas
Rebentos de feijão (ou rebentos de soja)
Quinoa ou cuscus
Sementes de sésamo torradas
Alface



Frutos do mar:

Molho leve com maionese, leite e parmesão
Repolho em pedaços ou em tirinhas
Tomate-cereja (metades)
Azeitonas pretas
Aipo ou alho-francês em tirinhas fininhas
Delícias do mar e/ou miolo de camarão
Alface


César:

Molho César
Cenoura em pedaços ou em tirinhas
Cubos de frango grelhado
Aipo ou alho-francês em tirinhas fininhas
Pepino
Alface
Parmesão
(adicione croutons mais tarde) para não ficarem moles).

***

Para acompanhar, pode preparar umas bebidas muito refrescantes à base de água, frutas e ervas aromáticas, cuja ideia sai do mesmo sítio do facebook onde retirei a ligação para as saladas.


- Corte em frutas em fatias finas ou pedaços pequenos.
- Selecione as ervas aromáticas que mais lhe agradam (a hortelã-pimenta é uma ótima combinação com os citrinos e o cravinho ou o pau-de-canela com a maçã).
- Misture os ingredientes com água.
- Refrigere por 4 a 6 horas.
- Servir bem fresco!




Deixe a sua imaginação voar, experimente outras combinações e saboreie!

terça-feira, abril 24, 2012

a arte de bocejar


A princípio, sentimos o bocejo como um minúsculo vórtice de baixa pressão algures no meio da cabeça. Logo se espalha por todo o corpo num movimento em espiral, como num remoinho: dilata a sua faringe, narinas e canais brônquicos; erguem-se as sobrancelhas e os ombros; o diafragma baixa, para permitir que os seus pulmões expandam; obriga o coração a correr e aumenta o fluxo sanguíneo no cérebro. Depois, numa reviravolta dramática, regressa à sua cabeça, onde consegue que a sua língua se recolha e força as mandíbulas a moverem-se para os lados e para baixo.
(...)
Assim, quando o cansaço cresce dentro da sua cabeça, como um vagaroso sistema climático, vá em frente e solte um bocejo à medida do seu coração.”

Texto de Véronique Vienne, foto de Erica Lennard
In “A Arte de Não Fazer Nada”

(um livrinho extraordinário J)

sábado, abril 07, 2012

Renovação

Como a maioria dos portugueses, provenho de uma família com raízes católicas, logo, cristãs.
Desde cedo que não me senti integrada no “sistema” e cresci com a ideia de que o ateísmo era o que me assentava melhor (talvez pelo constante chamamento das matérias relacionadas com áreas científicas).
O meu Pai sempre me ensinou a tomar em consideração todos os ângulos de uma questão, a questionar todos os supostos dogmas e a digerir tudo o que me parecesse radicalismo com uma dose “q.b.” de bom senso.
Assim tenho tentado fazer e apercebi-me, com o avançar dos anos, que sou agnóstica.
Quando era mais nova, por uma razão ou outra, a ideia de Páscoa nunca foi muito além das amêndoas, dos ovos de chocolate e dos filmes sobre a vida e o sacrifício de Cristo. Mas, também com o avançar dos anos, e independentemente de correntes religiosas ou crenças dogmáticas, o conceito que serve de base a esta época dita festiva, que muitos consideram apenas mais um fim de semana prolongado, ganhou novos contornos.
Considero que se trata de valores universais, cuja importância não conseguia verbalizar até ouvir uma entrevista a Fernanda Freitas, a coordenadora do Ano do Voluntariado em 2011, conjugada com algumas palavras que li no periódico do concelho de Mafra – o Carrilhão – no editorial de Isabel Vaz Antunes.
A entrevista era sobre três valores principais associados à Quaresma, que Fernanda Freitas explicou de um modo que me agradou. Sucintamente, referiu-se ao jejum (associando-o à redução do consumo de bens materiais), à partilha (dos valores mais importantes para nos relacionarmos com quem nos rodeia, como o tempo, a amizade e o amor) e a oração (entendida como uma introspeção connosco próprios, com os outros e com o mundo em geral, para um balanço das nossas ações).
Já no editorial do Carrilhão, Isabel Vaz Antunes faz uma analogia muito interessante com os ritmos da natureza. Citando: “Se a Quaresma é o período da poda, em que, tal como o campo em que atua o jardineiro, nos libertamos das hastes que empecilham o nosso crescimento e amadurecimento saudáveis, a Páscoa é o dia em que se celebra o resultado dessa ação – retirados os estorvos, saltam os novos rebentos, viçosos, prontos a desenvolverem-se, a enriquecerem e embelezarem as vivências do mundo”.
E, acrescento eu, em analogia com a imagem que circulou no facebook há tempos, é um pouco o tempo de podar a palavra CRISE do empecilho do “S” e permitir que se CRIE.
Desejo muitas quaresmas e muitas páscoas a todos ao longo deste ano e do resto das nossas vidas!