sexta-feira, julho 18, 2014

O futuro ontem

Corro o risco de ser processada por plágio, por ter dado a este artigo o nome de uma "rubrica" dentro do programa Portugalex, da Antena 1, mas foi o título que melhor encontrei para dar a mais um dos meus desabafos.
A grande diferença é que o Portugalex é para rir e o motivo que me leva a escrever este artigo deixou-me triste.

Há dias ouvi, na rádio, uma notícia que estava relacionada com a abertura da época de candidaturas ao ensino superior. A meio dessa peça há um testemunho de um jovem que parece apreensivo e que alega algo do género "ainda há um mês atrás tinha de pedir para ir à casa de banho e agora obrigam-me a escolher uma opção que me vai seguir para o resto da vida".

Também tive dúvidas e (muita) insegurança quando foi para escolher o que queria seguir na faculdade. E o que segui acabou por me permitir a entrada numa empresa onde fiquei mais de 20 anos.

Não estou a criticar este jovem em particular, nem muitos que provavelmente sentem o mesmo (embora o seu discurso desse pano para mangas).
Mas eu acabei o meu curso no início dos anos noventa... no século passado... e hoje o que faço não tem nada a ver com o que aprendi por lá.

Lembro-me também de ter ouvido uma vez um testemunho de alguém que estava a tirar uma licenciatura em astronomia, não me lembro onde. E, em resposta à eterna questão sobre o que iria fazer com o "canudo", respondeu que, em Portugal, não se pensa como em outros sítios: a formação (neste caso, a do ensino superior) não serve exclusivamente para ter um emprego, nem deve ser considerada como condição de partida para se ter um. Deve, sim, ser vista como uma janela para novos horizontes.
Se trouxer com isso algo mais, melhor.
Se não, temos de estar preparados, com outras ferramentas, para levar a nossa vida para diante.

Em jeito de conclusão, para não me alongar muito:
1 - ninguém é obrigado a tirar um curso superior: há outras alternativas
2 - pode sempre mudar de ideias a meio do caminho (ou mesmo no final), ou arranjar alternativas em paralelo
3 - o curso que se escolhe não nos ensina tudo (às vezes nem nos ensina nada do que vamos precisar depois)
4 - temos sempre a formação que nos é dada com a experiência de vida e há que tirar partido das janelas que se vão abrindo: o futuro não é uma linha reta com uma direção bem definida

E, acima de tudo, não pensar que há garantias neste mundo (especialmente nos dias de hoje): há sempre um grau de incerteza, mesmo que as estatísticas digam que aquele é provavelmente o melhor caminho a seguir para se obter o resultado que se pretende.

Talvez fosse este o teor das conversas sobre "o que quero eu da vida" se tivesse um filho em idade escolar.
Aliás, é este o teor que tento dar a qualquer conversa sobre "o que se quer da vida" com qualquer pessoa. Porque acredito que todos temos um papel na evolução dos jovens do presente, para olharem para o futuro. Com uma visão alargada, sem prisões ao passado ou a dogmas estabelecidos.