sexta-feira, dezembro 14, 2007

Veludo


Porque será que há verdades sobre nós próprios que, incontornáveis, não nos são perceptíveis aos nossos próprios olhos até que nos foquem a imagem...?

Talvez a consequência mais nefasta de não respeitar a liberdade dos outros seja, no limite, o não respeitar a nossa própria liberdade.

Disseram-me algo que me fez pensar nisto. Meditar, mesmo. Digeri-lo. E incorporá-lo.
E porque o digo agora?
Não sei. Nem me apetece saber.
Mas apeteceu-me dizê-lo. Como se atirasse uma flor a um poço sem fundo. Sem eco, com um aterrar de veludo. (Quase) inaudível.

sábado, novembro 03, 2007

Sonoridades

2 CDs e 1 espectáculo...

Há mais de um mês que ando no carro com dois CDs que não me canso de ouvir:
  • Viviane, da própria. Agradável, solto, com um toque europeu;
  • Lisboa, uma compilação (a primeira, aliás) da Lisboa Records. Intenso, pleno de emoção.

Entretanto, ontem fui assistir a um espectáculo no Pequeno Auditório (muito simpático, por sinal) do Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra - o projecto "Sal". Gostei. Vai passar a ser, certamente, mais um CD que não me vou cansar de ouvir...

E o que é que estes três elementos têm em comum?

Fazem parte de uma sonoridade para a qual venho despertando: a musicalidade vincadamente portuguesa. Com o fado sempre à espreita e aquela dualidade que nos caracteriza, de colocar a alegria e a tristeza de mãos dadas, com a inevitável pontinha de nostalgia e saudade.

domingo, outubro 21, 2007

Impressões jazzísticas IV

Chick Corea. CCB, 20 de Outubro.

O cartaz dizia "65 anos, e uma carreira de mais de 40 que o posiciona como um dos músicos mais prolíficos da segunda metade do século XX".

Para ser totalmente honesta, não conhecia a sua obra.
Tinha, no entanto, muito boas referências acerca dela.
E confirmaram-se.

"Hmmm... Nice... Very nice..." - comentários sobre a audiência. E sobre o piano.
"Piano solo is like playing in my living room. This is a very big living room! But we'll try to keep close."

Entrou "a matar" na 1ª parte: Thelonius Monk, Bill Evans... "What else... I'll play some other things for you...". Aparentemente improvisa tanto na interpretação como na programação. (Será? Teve efeito...)

Na 2ª parte: umas "short pieces" com o espírito das crianças como tema. Composições do próprio que remontam à década de setenta. Nice, very nice - digo eu.

Encore: "I've been entertaining you for almost two hours now... I think it's time for you to entertain me. A little bit!" E assim foi: pôs-nos todos a servir de coro... Bonito efeito.

Íntimo, mas muito comunicativo, fluido e à-vontade: só não se sentiu em casa quem não quis.

E estava este homem (segundo ele próprio disse) com 36 horas de viagem em cima e apenas 1 hora de descanso antes de entrar em palco.
O que faria se estivesse em plena forma e descansadinho da vida!

Para quem quiser saber mais: http://www.chickcorea.com/

quinta-feira, outubro 04, 2007

Espaço interior

Ouvi outro dia um amigo dizer que estava na idade de querer fazer muitas coisas.
Não sei bem que idade é essa: talvez seja mais um estado de espírito, disponibilidade a mais ou falta dela para pensar em certos assuntos. Comigo tem sido um pouco assim – há que ocupar compulsivamente o tempo, tentando descobrir se não haverá algo que ainda não conheço, que ainda não experimentei, que me faça despertar para outra realidade, que me transporte para um mundo melhor ou, pelo menos, que me faça ver este com outros olhos.

Mas ver este com outros olhos, pergunto-me cada vez mais frequentemente, para quê?
Já vejo este mundo com os olhos que quero: os meus. Com um olhar por vezes turvo, por vezes embriagado, do ruído exterior que deixo que me afecte e do ruído que produzo interiormente, para não ouvir aquilo que julgo ser um silêncio incomodativo.

Decidi abrir as portas e as janelas ao meu próprio espaço interior, deixando-o reinar sobre a “insustentável leveza do ser”…
Um trilho que trará, certamente, muito “suor sangue e lágrimas”.
Mas que, certamente, vai valer a pena.

Como parte desta abertura interior, criei três outros blogues.

Dois em que exponho artigos relacionados com duas paixões interligadas – os jardins e os bonsai –, de modo a organizar os meus pensamentos e a partilhar com quem queira ler um pouco do que vou fazendo e conhecendo nestas temáticas.
“At last, but not least”, um outro blogue cujo objectivo é, tão somente, agradar-me a mim própria, publicando excertos e citações de livros ou canções que vou lendo e ouvindo e que, por uma ou outra razão que não está nos meus planos dissecar (sim, porque nem tudo tem de ter um porquê…), me tocaram no meu íntimo.
Se, no caminho, agradar a mais alguém, tanto melhor.

domingo, setembro 23, 2007

Saudação ao Sol

Porto Santo.



Sem razão aparente, uma madrugada acordo com uma espertina que decidi, inexplicavelmente e num impulso, aproveitar.



Ainda de noite, saí para a praia. Acompanhada da minha máquina de registo de sensações e de uma curiosidade latente acerca do que me esperava.

Deixo alguns testemunhos de um amanhecer inesquecível.

Quer-me cá parecer que o Cosmos andava a preparar há já algum tempo uma complexa conspiração a meu favor.


E conseguiu...

Irrepreensivelmente.




Parte do resultado está à vista.
O resto... permanecerá dentro de mim.
.
Com excepção daqueles preciosos retalhos que o meu renovado sentido de intimidade permita que eu partilhe com os que amo.


domingo, agosto 26, 2007

Educação: Razão e Coração.

De vez em quando sou abençoada por um destes momentos. Que acontecem as vezes suficientes para eu lhes dar valor.

Desta feita, a tertúlia levou-nos à educação. E o que é a educação? Um processo que permite proporcionarmos ao outro o conhecimento de que existe um número de caminhos infindável, doseados com as infinitas combinações de proporção entre razão e coração, de tal modo que esse outro possa vir a descobrir as suas próprias ferramentas para desbravar os caminhos que pretende conhecer e, finalmente, optar por aquele ou aqueles que a sua natureza o leva a escolher percorrer.
Mas este é um processo que tem riscos, que acarreta, mais tarde ou mais cedo, num grau maior ou menor, dor. E esta dor pode ser elevada, dependendo da resistência em reconhecer que é necessário passar pelo processo de aprendizagem, quer de um lado quer do outro.
Esta resistência, do lado de quem educa, pode simplesmente ser a relutância em admitir que o caminho que quem está a aprender vier a escolher pode muito bem não ser aquele que se considera melhor à partida. E haver a tentação de encobrir os demais caminhos existentes.
Mas, se essa resistência for ultrapassada, independentemente do resultado da aprendizagem levar à escolha de um caminho preferido pelo educador, reconhecendo-se que a dor que se possa estar a passar é necessária, todo o processo pode ser muito gratificante.

Há que permitir a um passarinho que está no ninho a possibilidade de abrir as asas e voar. Não se pode controlar os céus nem os perigos ou maravilhas que o povoam. Apenas se pode fazer com que o passarinho saiba que tem um céu com inúmeras descobertas à espera dele. E que terá sempre um poiso seguro no ninho de onde partiu. Independentemente de ele voltar.

Gosto das nossas tertúlias. Têm um efeito educativo.
Encaixas bem em mim.
Só lamento que o Universo não nos tenha ainda dado uma oportunidade de passar da teoria à prática, num projecto de educação centrado em nós…

P.S. O ser humano é deveras engraçado: chora por uma dor que lhe é causada por não ter acesso a um processo que lhe poderá causar outro tipo de dor…

sexta-feira, agosto 03, 2007

E, para encher as medidas...

Fim de semana de comemoração do aniversário do, que já considero um pouco meu, Blog Montes & Vales...


Sábado: canyoning. Ora aqui está uma actividade a repetir!


Primeiro, medo.. bom, não era bem medo... era mais... ahhh... respeito...!



Mas depois... satisfação total! Pessoal, como se diz hoje em dia, 5 estrelas, água fantástica, pedaços de natureza fabulosos, adrenalina Q.B., enfim, sensações deleitosas.
Domingo: caminhadazinha à moda do David, sempre agradável e com algumas surpresazitas pelo meio, com um gostinho a escalada (tipo nível 0, mas deu para recordar...).
E o convívio, sempre o convívio!
Bem hajam!
.
.
P.S. - como não há bela sem senão, para além de nos esquecermos dos sacos-cama, numa noite de 9ºC (em Julho!) na Serra da Freita, esquecemo-nos também da máquina fotográfica, pelo que as fotos foram "surripiadas" das imagens gentilmente cedidas pela Nómadas - uma empresa representada por dois "moços" muito simpáticos e extremamente profissionais. Obrigada, Octávio e Nelson!
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Site da Nómadas: http://www.nomadas.pt

quarta-feira, julho 25, 2007

Nova perspectiva




Curso de iniciação à escalada - Maio/Junho 2007: vendo o mundo de um outro ângulo...







É uma actividade exigente. Talvez até mais para a mente que para o corpo. É preciso ter (ou desenvolver) um controlo individual apurado. E, como em qualquer outro desporto, há que aprender a técnica e praticar, praticar, praticar...



Gostei muito da experiência. Mas...

Não me caiu no goto. Não me enche as medidas. Aqui, o caminho é sempre para cima. E, quando não é para cima, é para baixo ("destrepa!").

Ora, embora goste de "subir na vida", o meu caminho é mais para a frente.

Apesar de tudo, a perspectiva é muito bonita.

As técnicas são essenciais para nos sentirmos mais à-vontade em outros caminhos. É um complemento precioso para outras actividades mais diversificadas.

domingo, julho 08, 2007

Doce

Doce porque sim.
Doce: porque não?
Doce, para mim,
saborosa tentação...

Doce retorno,
doce continuação.
Doce gosto na boca,
preenchendo o coração.

Com um doce sorriso
e um brilho no olhar,
aí está de novo a ternura...
É tão bom regressar!

quinta-feira, abril 12, 2007

Caminhadas II







Páscoa.
Serra da Lousã.



Tinha um estereótipo: eucaliptos, eucaliptos, eucaliptos.

Fiquei com uma ideia muito diferente... para melhor!

Bom... também fiquei com um andar novo, após todos aqueles quilómetros e subidas e descidas. E umas nódoas negras e uns deditos dos pés magoados...

Mas, no fim, no fim, bem vistas as coisas, enriqueci a alma: fiquei mais feliz!

sexta-feira, março 30, 2007

Budapest "under the leafy boughs"


Nas minhas mais recentes férias, visitei um pequeno museu de fotografia na cidade de Budapeste. Comprei lá um livrinho de fotos com um título do género "Fotos sem palavras".





É um livrinho de uma colecção que achei muito interessante. Este, em particular, da autoria de Schäffer Zsuzsa, revela-nos um olhar sobre a cidade através de um véu de árvores, de um modo íntimo e muito inspirador.










Acabei por ser fortemente influenciada...


segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Esperança

Há alturas em que me sinto triste, por dentro e por fora, uma tristeza pesada, densa, desamparada. Já não espero soluções. Grito ao vento em silêncio e não quero quem me responda: apenas preciso de alguém (ou algo) que me ouça as perguntas. Sem juízos. Sem compaixão. Sem piedade. Apenas que esteja presente. Que me escute. Sem retorno.

Nestas alturas, apetece-me enrolar-me toda sobre mim própria, e ficar muito quieta até que passe. São alturas em que sinto que preciso de me deixar afundar, tocar no lodo… para depois arranjar forças para, num impulso, voltar a subir. Sabendo que voltarei a descer, inevitavelmente. Mas com esperança que sejam descidas cada vez mais esporádicas, e cada vez menos fundas. E cada vez com mais força para me impulsionar para cima.

A tristeza é uma coisa muito especial, de tão indefesos que ficamos diante dela. É como uma janela que se abre apenas quando lhe apetece. Mas abre-se um bocadinho menos de cada vez; e um dia, perguntamo-nos o que é que lhe aconteceu.” Arthur Golden

Esta é a minha esperança.

domingo, fevereiro 11, 2007

Caminhadas I


6h30m (sim, da madrugada...) de Domingo (!): alvorada para nos encontrarmos com um grupo de pessoas que não conhecíamos e rumar à margem Sul. Claro que não podia faltar o cafézinho da ordem, até para despertar melhor as mentes e incutir uma energia revitalizante. E às 9h30 já estávamos perto de Alcácer, suficientemente equipados (para a chuva!) e pusémos pés ao caminho...

Sobreiros, planície alentejana, o rio Sado, lama Q.B. ... E chuvinha, ahh, a chuvinha... Daquela que molha os parvos! Mas a nós não!

Às tantas houve alguém que se lembrou: já comia qualquer coisinha...

Paragem para um snack na estação arqueológica Abul e... pés ao caminho novamente.

Ao todo foram 12,5 km bem passados (nem a chuva nos impediu de gozar o passeio), na companhia do que se veio a revelar boa gente, e que acabaram com umas sandochas de chouriço e umas bejecas numa tasquinha.

E ainda deu tempo de ir votar!

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Interrupção Voluntária da Gravidez II

Relativamente ao que escrevi em Outubro apenas altero a minha indecisão em ir votar: vou.

Quanto ao resto, e porque me sinto massacrada com tanto argumento, apenas quero deixar aqui um texto redigido por alguém que conhece os meandros da infertilidade e cuja identidade me permito manter sob o véu do anonimato.

"O Amor por um filho desejado deve ser um sentimento único. A descoberta do Amor por um filho que se teve sem se saber muito bem como nem porquê, deve ser reveladora e gratificante. E a Dor pela perda desse mesmo filho deve ser avassaladora.

E a Dor pela perda de um filho que nunca se teve, que nunca existiu? É uma dor envergonhada, que não se acha no direito de existir. Mas existe… Disfarçada por entre outros sentimentos, mantida ao longe tanto quanto possível, mas vigiada de perto, devido ao incómodo da revelação da sua existência. E presente. Como um grão de areia no sapato. Como uma nota desafinada num instrumento, que se pensa sempre que não vai ser necessária para tocar uma melodia, mas que, quando soa, incomoda.

O que é um facto é que ela está lá. E como lidar com ela? Não há maneira simples. Como em tudo na vida. É fácil tentar escondê-la debaixo de outros sentimentos ditos “mais nobres”, varrê-la para debaixo do tapete, camuflá-la com outros objectivos na vida, mas ela, de quando em vez, espreita. Espreita através do olhar de alguém que sabe o que é o Amor por um filho, através de um gesto de um desconhecido na rua para com o seu petiz, através do tom de voz de um amigo que deixa escapar uma confissão íntima acerca do “seu menino”… E estes breves momentos deixam uma amargo de boca, um nó na garganta, uma sensação de perda e de imensidão perante a nossa pequenez e impotência que é difícil transmitir a quem usufrui dessa dádiva. Até porque se trata de um sentimento envergonhado e, por tal, que se evita partilhar. Porque não há nada a fazer e a pena e o dó dos outros é muito dura de engolir. E quando deixamos que esses sentimentos de pena e dó se apoderem de nós, quando os sentimos por nós próprios, ficamos à deriva, perdemos o Norte, perdemos o rumo, perdemos a direcção. E não avançamos, porque simplesmente não sabemos para onde.


Até que surge na nossa mente o contorno daqueles outros objectivos contidos na nossa vida, que até nos dão algum alento, e, por vezes a custo, lá nos arrastamos novamente para a corrente e deixamo-nos levar…"


A Vida é, por vezes, injusta: uns a lutar por algo que não podem ter, outros a lutar por algo que não querem ter...

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Ser... humano

Quanto mais observo à minha volta, quanto mais atenta estou, quer ao meu exterior quer ao meu interior, mais me apercebo da complexidade do ser humano. Exactamente da perspectiva do verbo, que transmite uma continuidade: a de pertencer à espécie humana.
E considero cada vez mais que não devemos fazer julgamentos. Não devemos julgar medos ou crenças, pensamentos ou actos, por muito que entrem em conflito com o que consideramos ser o nosso próprio modo de ser, os nossos medos, as nossas crenças, o nosso pensamento ou o nosso modo de agir.
Nem a nós próprios devemos julgar
"O Homem só é Homem quando é capitão da sua própria alma". Quantos de nós andam à deriva; quantos de nós têm caminhos por percorrer, cantos insondáveis por descobrir. Quantas vezes nos desconhecemos, desconhecendo esse mesmo facto... Pensando que sabemos quem somos, como pensamos, como agimos. Que temos os nossos medos identificados, que sabemos quais as crenças que nos movem...
Como nos surpreendemos, por vezes, quando nos é revelado um pouco mais do nosso ser, quando conseguimos espreitar um pouco mais além, para o nosso interior: quanto mais haverá ainda por descobrir...
E mais humildes nos devemos tornar perante a diversidade contida no mundo. No mundo dos outros. No nosso mundo.

domingo, janeiro 28, 2007

Neve na Malveira

País tropical? Pois sim...

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Gostei...

Ricardo Araújo Pereira. Na Grande Entrevista (RTP1), hoje.
Gosto de pessoas assim: inteligentes. Revelando honestidade. E combinando estas duas com diplomacia q.b. E a "cereja no topo do bolo" (se bem que eu prefiro uma noz): naturalmente bem humoradas.

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Regresso às origens

Por muito que o senso comum me dite que um ano novo não se decide no seu princípio, tenho sempre aquela sensação que algo pode correr melhor se houver alguma mudança.
E já há algum tempo que ando a pensar na mudança de nome. Não que tenha algo contra a Patanisca – até porque o meu blog se mantém com este nome tão carinhosamente especial para mim.
Mas Pé-de-salsa é, afinal de contas, o meu “nome de guerra” mais antigo que me lembro. Posso-me ter tornado em algo melhor, pior, ou simplesmente diferente, mas a essência mantém-se e apetece-me marcar o meu espaço com algo que me faça regressar às origens, até esse tempo em que eu era eu, directamente da génese, ainda sem influência do meio.
Portanto, ano novo, nome novo.
E que, se possível, a vida corra um bocadinho melhor todos os anos.