“Os sábios pensam que são capazes de compreender a Natureza.
É a posição que assumem. Porque estão convencidos de que podem compreender a
Natureza, confiamos-lhes o seu estudo e a sua exploração. Contudo, penso que a
compreensão da Natureza ultrapassa o alcance da inteligência humana.”
“Rejeito a imagem vazia da Natureza como imagem criada pela
inteligência humana e distingo‑a claramente da própria Natureza que é
experienciada pela inteligência não-discriminatória.” (…)
“A Ocidente, as ciências naturais desenvolveram-se a partir
do conhecimento discriminatório; no Oriente, a filosofia do yin e do yang, do I
Ching, desenvolveu-se a partir da mesma origem. Mas a verdade científica jamais
poderá atingir uma verdade absoluta, e as filosofias, afinal, não passam de
interpretações do mundo. A Natureza tal como ela é apreendida pelo conhecimento
científico, é uma Natureza que foi destruída; é um fantasma possuindo um
esqueleto mas sem alma. A Natureza tal como ela é apreendida pelo conhecimento
filosófico, é uma teoria nascida da especulação humana, um fantasma com uma
alma mas sem estrutura.
Não há outro meio para atingir o conhecimento
não-discriminatório senão a intuição directa, mas as pessoas tentam ajustá-la a
uma construção familiar chamando-lhe “instinto”. É na realidade um conhecimento
de origem indizível. Para conhecer a verdadeira aparência da Natureza, devemos
abandonar o espírito de discriminação e ultrapassar o mundo da relatividade.
Para começar, não há Ocidente nem Oriente, nem quatro estações, nem yin nem
yang. (…) Quando o indivíduo é capaz de entrar num mundo em que os dois
aspectos de yin e de yang regressam à sua unidade original, a missão destes
símbolos está terminada.”
“Quanto aos sábios, apesar da importância da sua inquirição sobre
a Natureza e da profundeza da sua pesquisa, acabam finalmente por se limitar a
constatar até que ponto a Natureza é realmente perfeita e misteriosa. Acreditar
que através da pesquisa e da invenção a humanidade pode criar algo melhor do
que a Natureza é uma ilusão. Penso que a única razão porque as pessoas lutam é
para chegar a compreender aquilo a que se poderia chamar a grande
incompreensibilidade da Natureza.”
in "A Revolução de uma palha", Masanobu Fukuoka