terça-feira, abril 08, 2014

a Natureza


“Os sábios pensam que são capazes de compreender a Natureza. É a posição que assumem. Porque estão convencidos de que podem compreender a Natureza, confiamos-lhes o seu estudo e a sua exploração. Contudo, penso que a compreensão da Natureza ultrapassa o alcance da inteligência humana.”

“Rejeito a imagem vazia da Natureza como imagem criada pela inteligência humana e distingo‑a claramente da própria Natureza que é experienciada pela inteligência não-discriminatória.” (…)

“A Ocidente, as ciências naturais desenvolveram-se a partir do conhecimento discriminatório; no Oriente, a filosofia do yin e do yang, do I Ching, desenvolveu-se a partir da mesma origem. Mas a verdade científica jamais poderá atingir uma verdade absoluta, e as filosofias, afinal, não passam de interpretações do mundo. A Natureza tal como ela é apreendida pelo conhecimento científico, é uma Natureza que foi destruída; é um fantasma possuindo um esqueleto mas sem alma. A Natureza tal como ela é apreendida pelo conhecimento filosófico, é uma teoria nascida da especulação humana, um fantasma com uma alma mas sem estrutura.
Não há outro meio para atingir o conhecimento não-discriminatório senão a intuição directa, mas as pessoas tentam ajustá-la a uma construção familiar chamando-lhe “instinto”. É na realidade um conhecimento de origem indizível. Para conhecer a verdadeira aparência da Natureza, devemos abandonar o espírito de discriminação e ultrapassar o mundo da relatividade. Para começar, não há Ocidente nem Oriente, nem quatro estações, nem yin nem yang. (…) Quando o indivíduo é capaz de entrar num mundo em que os dois aspectos de yin e de yang regressam à sua unidade original, a missão destes símbolos está terminada.”

“Quanto aos sábios, apesar da importância da sua inquirição sobre a Natureza e da profundeza da sua pesquisa, acabam finalmente por se limitar a constatar até que ponto a Natureza é realmente perfeita e misteriosa. Acreditar que através da pesquisa e da invenção a humanidade pode criar algo melhor do que a Natureza é uma ilusão. Penso que a única razão porque as pessoas lutam é para chegar a compreender aquilo a que se poderia chamar a grande incompreensibilidade da Natureza.”

in "A Revolução de uma palha", Masanobu Fukuoka