quarta-feira, setembro 20, 2006

A busca...

A busca incessante pela felicidade pode levar-nos a um processo de transformação. O processo de amadurecimento. E, quando nos apercebemos disso, já não há retorno.
Talvez seja por isso que o povo diz que a felicidade não se procura. Ela deve vir ao nosso encontro, para que seja plena e não deixe marcas. Porque, quando a procuramos, pode-se revelar um processo doloroso e não resultar do mesmo modo que com as crianças (e incluo aqui todos os adultos com alma de criança) que acolhem a felicidade como quem recebe a chuva num dia de Verão ou um raio de sol num dia de Inverno.
Comparo a busca da felicidade, em certos casos, à luta de um animal selvagem pelo seu espaço, pelo seu estatuto, pela sua liberdade: quando acaba essa mesma luta, tanto mais violenta quanto mais elevados forem os seus objectivos, pode ter ganho o seu espaço, o seu estatuto ou a sua liberdade. Mas depois tem de se sentar a um canto, lambendo as suas feridas. E, quando sara, nunca mais volta a ser o mesmo.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Arte & Amor

Divagação sobre as impressões de uma tertúlia a dois.

A Arte é o expoente máximo da Técnica, por excelência.
Mas sempre acompanhada do dom da percepção intuitiva das coisas.
Possuir o dom, sem trabalhar a técnica, ou trabalhar a técnica sem possuir o dom, não leva a lado nenhum…

Quando se traça uma linha ou se escreve uma frase, há que ter a percepção do todo. Mas a técnica para se obter esse todo, que só se aperfeiçoa com o tempo de prática e aprendizagem, com a tentativa-erro, é essencial para se evoluir no modo de exprimir o que se tem dentro da alma. Não adianta saber traçar a linha ou saber o que se pretende escrever, tendo a percepção do todo, se não se pratica a técnica para aperfeiçoamento do concretizar do sentimento. E, do mesmo modo, não adianta de nada praticar a técnica se não se tem o dom de saber traçar a linha ou de se conseguir por um pensamento por escrito com a intuitiva noção de como deve resultar o todo.

Aqui comparo o Amor (em sentido lato) à Arte: nas relações entre as pessoas, há que ter o dom e trabalhar intensamente a técnica. Sem o sentir não há Amor. Mas sem se aprender a lidar com a rotina, os dissabores, os defeitos, as adversidades, enfim, as inúmeras dificuldades do convívio humano, também não se vai a lado nenhum…

E cada um tem de dosear os dois pratos da balança consoante a sua natureza: na Arte e no Amor.

sábado, setembro 09, 2006

Silêncio


Há o silêncio de cortar à faca, quando o ambiente é pesado ou constrangedor e desagradável.
Há o silêncio sepulcral quando, por exemplo, se sabe de uma notícia tão ruim que nem nos atrevemos a comentar, pairando sobre nós como que uma tempestade seca prestes a explodir...

Há o silêncio de ouro, quando precisamos de estar sós e descansar a mente e o espírito.


E depois há aquele silêncio confortável, quentinho, que nos mima por dentro, de quando estamos com quem nos habita o coração. De quando, como disse António Lobo Antunes, "As palavras são desnecessárias (...) uma pessoa de quem eu gosto é aquela com quem estou bem em silêncio."
Este é um tipo de silêncio inestimável, cheio de conteúdo e que nos faz sentir em harmonia com o mundo e com a Vida. Abençoado é aquele a quem é concedida esta dádiva. E precioso é quem nos proporciona este bem estar com o Universo.

"O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. Quem está ao pé dele está só ao pé dele." Fernando Pessoa