terça-feira, dezembro 23, 2014

Lamechice de época

Como ainda não tinha aqui deixado a "marca" desta família que me tem acompanhado durante o ano de 2014, fica aqui o testemunho.

Uma derradeira lamechice para este ano, verdadeiramente felino: Boas Festas da Gata Hari e dos filhotes Bob e Specky.

Que 2015 seja sereno como eles e nos dê a sua agilidade para lidar com a vida.
:)


terça-feira, dezembro 16, 2014

Pausa da pausa

Estou cansada de estar cansada.

Quero descanso de um cansaço geral que se vem apoderando de mim desde esta altura.

Pensei que o isolamento (pelo menos, no que toca à internet e, em particular, ao Facebook) seria a solução.
Não andava longe da verdade. Mas é mais do que isso. Muito mais.
Preciso de um isolamento interior, mas sem me isolar do exterior.

?!?

É isso mesmo. Talvez um pouco na linha do que John Francis me transmitiu no vídeo que partilho de seguida (mais uma vez, bem haja, mana).


Duas ideias principais me ficaram desta mensagem:
  1. Aprende-se muito mais calando-se a nossa mente tagarela (para isso, é preciso uma autodisciplina consistente e duradoura para ouvir mais os outros, fazendo com que a nossa própria voz interior seja mais uma a ouvir com atenção)
  2. Tira-se mais partido desse esforço se não cortarmos de vez com a nossa expressão verbal * – tem é de ser uma expressão verbal objetiva, sucinta e proferida apenas quando absolutamente necessário, fruto de uma ponderada introspeção (agir, não reagir).
* (senti que a mensagem do John Francis era difícil de entender dado que, talvez por causa da longa pausa de 17 anos que ele fez na audição da sua própria voz ou talvez por ser uma TedTalk, com as condicionantes temporais que impõe, a sua capacidade oratória seja algo atabalhoada – fico com a impressão que os seus pensamentos são muito ricos, mas não os consegue verbalizar)

Daí ter elegido um mote para o meu horizonte, uma palavra a adicionar a todos os meus pensamentos e ao mais pequeno gesto:


quarta-feira, outubro 29, 2014

Estado de espírito

Às vezes encontro coisas que me retratam bem.
Nesta volta da espiral do tempo foi esta:

"Meu caro, não se trata de mudar parafusos.
É necessário desmantelar a estrutura."


(Palavras e imagem do blog AnjoInútil, neste artigo)


quarta-feira, setembro 24, 2014

Dia V

Gosto de cozinhar. Descobri ao longo do tempo: tudo começou com a necessidade de descobrir novos sabores para as refeições do dia a dia e é um gosto que tem vindo a aumentar desde que aposto mais numa alimentação maioritariamente à base de vegetais.

Neste percurso de descoberta fui-me "munindo" de alguns livros de receitas: desde o Pantagruel, passando por livros de cozinha tradicional portuguesa, a livros específicos sobre cozinha vegetariana, tenho de tudo um pouco.
Mas tenho de admitir que é muitissimo raro conseguir fazer uma receita exatamente como indicam os livros. De facto, os ingredientes que tenho disponíveis em casa falam (quase) sempre mais alto e, quando tenho tudo, tenho a mania de inventar, dando sempre um toque pessoal a qualquer cozinhado.

Em pratos vegetarianos, então, é quase regra certa que, primeiro, olho para o que consigo retirar da horta e do frigorífico na altura de começar a cozinhar e, se o que está disponível não coincide com alguma receita que me caia no goto, avanço invariavelmente para uma das minhas "Marianadas" (como se diz cá por casa).

Ontem foi "dia Vegan" - sem proteínas animais (nem carne, nem peixe, nem ovos, nem laticínios).
Olhei para o frigorífico e saiu isto:
  • Almoço: seitan salteado com pimentos picantes, feijão verde e puré de abóbora com limão e sementes de sésamo.
  • Jantar: mini-salada de cenoura salteada com cominhos e rúcula com molho de vinagrete de tomate maduro e empadão de pão de azeitonas, feijão frade e cebola gratinado com sementes de sésamo.
A comida vegetariana é enfadonha e sensaborona, não é?


segunda-feira, agosto 25, 2014

1969 - 2014

Como tenho sérias esperanças (como a minha bisavó) de atingir as nove décadas de existência neste mundo, isto quer dizer que atingi mais ou menos o ponto médio.
Ou seja, “hoje é o primeiro dia do resto da minha vida”.

Sinto-me como uma criança com todo um mundo pela frente.
E o que se pergunta a alguém assim? Pois... “O que queres ser quando fores grande?”

Forte. Quero ser forte.

Para tal, parece que é preciso, segundo estes senhores aqui, seguir uma lista de 13 coisas a evitar. Sei, há mil e uma listas destas hoje em dia... Talvez seja mais do mesmo, mas apeteceu-me. E escolhi esta porque não me diz o que fazer, mas o que não fazer J:
  1. Não perder tempo a ter pena de mim própria
  2. Não abdicar do meu poder sobre mim mesma
  3. Não evitar a mudança
  4. Não perder energia com coisas que não consigo controlar
  5. Não me preocupar demasiado em agradar aos outros
  6. Não ter receio de arriscar
  7. Não me martirizar com o passado
  8. Não cometer os mesmos erros repetidamente
  9. Não me ressentir com o sucesso dos outros
  10. Não desistir à primeira
  11. Não temer o silêncio ou o estar sozinha
  12. Não partir do princípio que o mundo me deve alguma coisa
  13. Não esperar resultados imediatos de nada, ou seja, ser paciente


A minha prenda para mim mesmo é usar uma pitadinha de um ou mais destes ingredientes pelo menos uma vez por dia. E, ao longo do tempo, cozinhá-los com um tempero primordial: o bom senso.
OK, talvez misturando alguns dos ingredientes de outra receita de há uns tempos atrás, esta muito minha e que tem vindo a resultar (pequenos nadas).

E venham os próximos 45! 
Depois logo revejo a situação J


NOTA IMPORTANTE: dedico este artigo a todos os que me acompanharam, num ou noutro momento, nestes 45 anos de existência. Algures neste percurso todos vós me ensinaram algo que faz de mim quem sou. Neste mundo ou noutro, presentes ou ausentes, perto ou longe, bem haja por fazerem parte das minhas memórias.

sexta-feira, agosto 01, 2014

Media, normal e moda...

Por isto é que eu não leio jornais.

(imagem de Leunig)

sexta-feira, julho 18, 2014

O futuro ontem

Corro o risco de ser processada por plágio, por ter dado a este artigo o nome de uma "rubrica" dentro do programa Portugalex, da Antena 1, mas foi o título que melhor encontrei para dar a mais um dos meus desabafos.
A grande diferença é que o Portugalex é para rir e o motivo que me leva a escrever este artigo deixou-me triste.

Há dias ouvi, na rádio, uma notícia que estava relacionada com a abertura da época de candidaturas ao ensino superior. A meio dessa peça há um testemunho de um jovem que parece apreensivo e que alega algo do género "ainda há um mês atrás tinha de pedir para ir à casa de banho e agora obrigam-me a escolher uma opção que me vai seguir para o resto da vida".

Também tive dúvidas e (muita) insegurança quando foi para escolher o que queria seguir na faculdade. E o que segui acabou por me permitir a entrada numa empresa onde fiquei mais de 20 anos.

Não estou a criticar este jovem em particular, nem muitos que provavelmente sentem o mesmo (embora o seu discurso desse pano para mangas).
Mas eu acabei o meu curso no início dos anos noventa... no século passado... e hoje o que faço não tem nada a ver com o que aprendi por lá.

Lembro-me também de ter ouvido uma vez um testemunho de alguém que estava a tirar uma licenciatura em astronomia, não me lembro onde. E, em resposta à eterna questão sobre o que iria fazer com o "canudo", respondeu que, em Portugal, não se pensa como em outros sítios: a formação (neste caso, a do ensino superior) não serve exclusivamente para ter um emprego, nem deve ser considerada como condição de partida para se ter um. Deve, sim, ser vista como uma janela para novos horizontes.
Se trouxer com isso algo mais, melhor.
Se não, temos de estar preparados, com outras ferramentas, para levar a nossa vida para diante.

Em jeito de conclusão, para não me alongar muito:
1 - ninguém é obrigado a tirar um curso superior: há outras alternativas
2 - pode sempre mudar de ideias a meio do caminho (ou mesmo no final), ou arranjar alternativas em paralelo
3 - o curso que se escolhe não nos ensina tudo (às vezes nem nos ensina nada do que vamos precisar depois)
4 - temos sempre a formação que nos é dada com a experiência de vida e há que tirar partido das janelas que se vão abrindo: o futuro não é uma linha reta com uma direção bem definida

E, acima de tudo, não pensar que há garantias neste mundo (especialmente nos dias de hoje): há sempre um grau de incerteza, mesmo que as estatísticas digam que aquele é provavelmente o melhor caminho a seguir para se obter o resultado que se pretende.

Talvez fosse este o teor das conversas sobre "o que quero eu da vida" se tivesse um filho em idade escolar.
Aliás, é este o teor que tento dar a qualquer conversa sobre "o que se quer da vida" com qualquer pessoa. Porque acredito que todos temos um papel na evolução dos jovens do presente, para olharem para o futuro. Com uma visão alargada, sem prisões ao passado ou a dogmas estabelecidos.

sexta-feira, junho 20, 2014

A minha alimentação

“As pessoas começam por abandonar a alimentação vazia e fácil ["alimentação laxista”], fonte de inúmeras doenças. Depois, desencantadas com a alimentação científica, que apenas procura manter a vida biológica, muitas passam a uma alimentação de princípio ["baseada em princípios espirituais e numa filosofia idealista"]. Finalmente, ultrapassando-a, chega-se à alimentação não-discriminatória da pessoa natural”.
Masanobu Fukuoka
(no capítulo “Resumo sobre a alimentação” do livro “A revolução de uma palha”)


À questão: "Você é vegan, certo?", a autora deste artigo responde: “Não”.

O discurso dela é tão consentâneo com o que sinto (e com o que me dá vontade de responder quando me questionam sobre o meu atual regime aimentar) que faço minhas as suas palavras.

“Ah então você isto ou aquilo ..."
 “Não.. Eu não sou uma praticante de nenhuma dieta específica. (…)
Qual é a minha regra de ouro em uma alimentação saudável? Comer para me sentir bem. Eu gosto de uma dieta rica em vegetais porque me faz sentir bem. (...) eu até posso ter uma leve obsessão por legumes: cozinhá-los, tirar-lhes fotos, procurá-los de propósito para comprar ...
Seguir uma alimentação saudável pode ser complicado, se se deixar, mas se desacelerarmos e nos ouvirmos com atenção, podemos ser conduzidos na direção certa.
Ou talvez optar pelo cheeseburger num determinado momento. E isso não faz mal.
Se eu tivesse uma dieta, manifestamente seria algo como isto:
  • Comer tantos vegetais quanto possível.
  • Beber muitos líquidos.
  • Não manter coisinhas para petiscar que não sejam saudáveis ​​muito perto.
  • Comer alimentos frescos, o mais perto de acabados de apanhar, quando possível.
  • Ser criativo.
  • Comer para se sentir bem.
  • Aproveitar o resto.”
E é isto.

segunda-feira, junho 02, 2014

Uma noite com Chick


Grande auditório do CCB, sábado, 31 de maio. Jazz ao seu mais alto nível.

Faço minhas as palavras da jazz.pt neste artigo (e a foto do início também é deles) e transcrevo o texto que exprime exatamente o que mais gostei dessa noite memorável:
"(...) bela leitura de “Waltz for Debbie” (Bill Evans), (...) a exploração das harmonias angulosas de “Work”, de Monk*. Surpreendeu quando juntou “Pastime Paradise” de Stevie Wonder à Mazurka em Lá menor op. 17 n.º 4 de Fryderyk Chopin, aproximando dois universos que só a presunção (e a ignorância) teimam em separar."
"(...) a elegância melódica, a gestão rigorosa de articulações e dinâmicas, a fluidez consequente na improvisação."

*NOTA: Thelonious Monk é, para mim, um universo de muito difícil acesso. Curiosamente, foi uma das músicas que mais gostei no concerto de Chick Corea...

E digo mais: Jazz ao seu mais alto nível.

terça-feira, abril 08, 2014

a Natureza


“Os sábios pensam que são capazes de compreender a Natureza. É a posição que assumem. Porque estão convencidos de que podem compreender a Natureza, confiamos-lhes o seu estudo e a sua exploração. Contudo, penso que a compreensão da Natureza ultrapassa o alcance da inteligência humana.”

“Rejeito a imagem vazia da Natureza como imagem criada pela inteligência humana e distingo‑a claramente da própria Natureza que é experienciada pela inteligência não-discriminatória.” (…)

“A Ocidente, as ciências naturais desenvolveram-se a partir do conhecimento discriminatório; no Oriente, a filosofia do yin e do yang, do I Ching, desenvolveu-se a partir da mesma origem. Mas a verdade científica jamais poderá atingir uma verdade absoluta, e as filosofias, afinal, não passam de interpretações do mundo. A Natureza tal como ela é apreendida pelo conhecimento científico, é uma Natureza que foi destruída; é um fantasma possuindo um esqueleto mas sem alma. A Natureza tal como ela é apreendida pelo conhecimento filosófico, é uma teoria nascida da especulação humana, um fantasma com uma alma mas sem estrutura.
Não há outro meio para atingir o conhecimento não-discriminatório senão a intuição directa, mas as pessoas tentam ajustá-la a uma construção familiar chamando-lhe “instinto”. É na realidade um conhecimento de origem indizível. Para conhecer a verdadeira aparência da Natureza, devemos abandonar o espírito de discriminação e ultrapassar o mundo da relatividade. Para começar, não há Ocidente nem Oriente, nem quatro estações, nem yin nem yang. (…) Quando o indivíduo é capaz de entrar num mundo em que os dois aspectos de yin e de yang regressam à sua unidade original, a missão destes símbolos está terminada.”

“Quanto aos sábios, apesar da importância da sua inquirição sobre a Natureza e da profundeza da sua pesquisa, acabam finalmente por se limitar a constatar até que ponto a Natureza é realmente perfeita e misteriosa. Acreditar que através da pesquisa e da invenção a humanidade pode criar algo melhor do que a Natureza é uma ilusão. Penso que a única razão porque as pessoas lutam é para chegar a compreender aquilo a que se poderia chamar a grande incompreensibilidade da Natureza.”

in "A Revolução de uma palha", Masanobu Fukuoka