quarta-feira, outubro 25, 2006

Interrupção Voluntária da Gravidez

E pronto. Lá vamos nós começar novamente com o debate. Quando me falam em referendo, a ideia que me assola mais rapidamente o espírito é a falta de coragem política. Afinal, para que é que elegemos os nossos governantes? Talvez seja por isto que a maioria das pessoas não vota hoje em dia nos referendos: “eles que decidam por nós, como lhes compete…”
Bom, mas já que se fala tanto nisso, aqui fica a minha opinião sobre a interrupção voluntária da gravidez (até a palavra aborto me incomoda…).
Não posso dizer que sou contra: aceito que existam inúmeras situações que se encontram para além de um julgamento simplista e nas quais não se vislumbre, a determinada altura, qualquer outra alternativa. Até porque não deve ser um processo fácil para a maioria das mulheres que decidem fazer uma coisa destas (digo maioria, porque também acredito que há pessoas e pessoas…).
Mas também não sou a favor, assim, a nu e a cru, sem mais consideração nenhuma… Tenho muita dificuldade em compreender a falta de informação que existe a nível de planeamento familiar, a inércia em se apostar numa educação sexual adequada (seja na escola, seja em família), enfim, nas lacunas que temos a montante deste processo.
E, por outro lado, embora não seja solução para todos os casos, há sempre a alternativa da adopção: quantas vezes não se ouve falar dos inúmeros casais que tentam, durante anos a fio, uma adopção, sem o conseguir, esbarrando com dificuldades incontáveis e por vezes incontornáveis? Neste campo, há ainda muito que as chamadas “entidades competentes” podem fazer para permitir uma intersecção maior e mais adequada entre estes dois conjuntos.

Resumindo e baralhando: ainda não sei como votar. Se votar sim, por muito que me doa, fá-lo-ei por aquelas mulheres que sofrem (muito mais do que eu certamente possa imaginar) apenas por decidirem que não têm alternativa. Se votar não, faço-o por protesto à ineficiência do sistema, que não permite a muitas dessas mulheres vislumbrarem alternativa…
Se é que vou votar… Eu sei que há quem diga que não nos podemos demitir deste tipo de dever cívico, mas sinceramente é o que me apetece. Se nos perguntassem outras coisas em paralelo, para podermos dar uma opinião, fazer críticas construtivas… Mas não. Ou "sim", ou "não"! E esta questão, definitivamente, não se resume a isso.

sexta-feira, outubro 20, 2006

"Uma verdade inconveniente"

As impressões que me ficaram do filme/documentário “Uma verdade inconveniente” não foram demasiado derrotistas. Aliás, grande parte do que foi dito não me surpreendeu. Não porque o soubesse de um modo científico, mas por somar 2+2 do que aprendi na escola e do que tenho ouvido, visto e lido nas diversas fontes de informação existentes actualmente.

Fui ver o filme com uns amigos. As opiniões divergiam entre “estamos todos lixados” e “aquilo soa-me a treta”. Concordo que o modo como foi montado e apresentado mais parecia uma campanha pró-Al Gore… Mas, convenhamos que, pelo menos para mim, o filme parece ter sido feito à medida do que eu entendo por “Norte-Americano Médio” (obviamente, EUA). Toda aquela panóplia de alarmismos e alegorismos, ilustrados através de gráficos extremamente simples e projecções de bonecos e ilustrações com carácter “naïf” e (achei eu) bastante redutor, servem, no meu entender, para levar uma mensagem de “Oh, God, what have we done?? We’re all seriously f…!!”. Senão, não funciona… Por isso, até acho que, para este tipo de público alvo, o formato e o conteúdo eram sofríveis.

Mas as impressões/considerações gerais que eu retenho do que vi resumem-se, basicamente, a:

Aspectos negativos
· A extrapolação dos dados não tinha em linha de conta, ao que tudo indica, as medidas que já se encontram, neste momento, a ser tomadas por uma grande parte do dito “mundo civilizado”.
· Não houve qualquer testemunho na 1ª pessoa por nenhum dos técnicos/cientistas que foram sendo citados ao longo do filme. Medo de represálias…? Há certamente pessoas que, tendo os seus nomes associados a movimentos que apoiem esta causa ou publicados em artigos que revelem os dados que foram expostos, estariam dispostas a colaborar numa iniciativa deste tipo, à escala global.
· A “martelada” acerca do que está desgraçadamente mal foi (estimo eu grosseiramente) cerca de 80 a 90% do tempo do filme, enquanto que a parte positiva, acerca do que se pode fazer, ocupou apenas uma pequena parte do final…

Aspectos positivos
· Foi apresentada uma lista de cidades dos EUA que já se encontram a seguir as directivas do protocolo de Quioto, não obstante o país em si não o ter ratificado. Eu, como não sabia disto, pensava que as coisas por lá estavam bem mais negras. Mas, se já há Estados a “puxar” para o lado certo, já é um começo…
· Embora escassas (como referi nos aspectos negativos), existem sugestões de como o cidadão comum pode ajudar a minimizar os efeitos do aquecimento global. O próprio filme refere que a batalha pode (e deve) ser travada pessoa a pessoa, cidade a cidade… Bom, talvez seja um pouco exagerado, mas grão a grão…

À laia de conclusão, posso dizer que, pelo menos, este filme teve a sua contribuição para pôr as pessoas a falar. Só espero que não passe de conversa!

Para quem quiser aceder ao site do filme: http://www.climatecrisis.net/

domingo, outubro 15, 2006

Fotografia – Cor & Textura

Descobri há pouco tempo a fotografia. Sempre gostei de ver, mas nunca me tinha lançado à empreitada de conhecer mais que para além de um trabalho de escola sobre o tema. E agora, confesso, não sei muito mais que nessa altura. Tenho é a grande vantagem de ter do meu lado as novas tecnologias: uma máquina digital que faz maravilhas para “totós” como eu…

Entretanto, descobri também o site "Olhares". Pode não ser o melhor nem é, de modo algum, o único com o intuito de divulgar esta arte. Mas foi aí que me aventurei a expor os meus primeiros “trabalhos” enquanto curiosa.

Desde então que fotografo quase tudo o que me aparece à frente, tenha ou não interesse como imagem a ser divulgada: apenas capto o que vejo, seguindo o meu ímpeto e os meus sentidos. E tenho cada vez mais avidez de captar com a câmara o que considero que possa retratar as coisas, as sensações e, porque não, os sentimentos que me fazem sentir bem, me perturbam ou que, simplesmente, me captam a atenção.


Quando refiro os sentimentos, confesso que os considero difícil de transmitir numa imagem. Principalmente porque não me sinto minimamente à vontade para fotografar pessoas: os retratos de pessoas, seja com expressões faciais seja com expressões corporais, serão, talvez, os grandes veículos para transmissão de sentimentos em fotografia. E os objectos inanimados ou imagens que não contenham componentes humanos podem ter interpretações diversas das que lhe damos quando fotografamos – há, na minha modesta opinião, um risco maior de não conseguirmos fazer passar a mensagem que está na nossa cabeça.


De entre os temas mais fáceis de retratar, ou melhor, de entre os elementos que contribuem mais objectivamente para transmitir uma determinada mensagem contida numa imagem, encontram-se as cores e as texturas. Porque dependem principalmente da visão. Um amigo fez-me ver que as texturas são acentuadas com o ângulo da luz: o início ou o final do dia proporcionam-nos as melhores condições para salientar alguns tipos de texturas. E (obviamente, quando não se trabalha a preto e branco) as cores e as suas combinações são essenciais para conseguirmos transmitir a nossa mensagem com a força que a imagem que captámos nos transmitiu a nós próprios.


Deixo aqui alguns exemplos do que tenho fotografado dentro deste âmbito.

Agradeço comentários construtivos… É que o site “Olhares” peca por isso: os seus participantes raramente criticam as fotos que lá coloco de modo a dar-me pistas ou abrir-me novas portas para a procura da melhoria do trabalho exposto.


O meu próximo objectivo é fotografar o vento. E vou-me debruçar também na pesquisa de como retratar sensações como o cheiro ou o sabor…

quinta-feira, outubro 05, 2006

Impressões jazzísticas II

Sassetti, Laginha, Burmester. 3 pianos no grande auditório do CCB. Felizmente apenas com a acústica dos mesmos, que da última vez que lá estive o sistema de amplificação deixou muito a desejar, mesmo para uma leiga como eu.

Bem, foi mais um espectáculo de música no sentido lato, não necessariamente só jazz – teve também clássica, com composições de épocas muito diversas. Mas com muito improviso, portanto cá vão mais umas impressões jazzísticas.

Antes de mais, muito bom. Eu para apreciar música apenas conto com o meu sentimento: não percebo nada nem da arte nem da técnica… Mas ontem tive a oportunidade de comparar modos de tocar este tipo de instrumento. E o que é que senti?
Burmester num universo clássico. A páginas tantas, Sassetti disse que iriam tocar uma peça de Bach, nas quais Burmester é um mestre… Bom, Pedro iria tocar, ele iria tentar… Realmente, exímio na técnica. Um som soberbamente fluido. E daí em diante, conseguia distinguir quando era ele a tocar, pelo som que saía das teclas. A meu ver, apenas lhe falta, no seu modo de estar, um pouco de humildade.
Laginha num universo mais jazzístico. Para mim. O seu modo de tocar era mais cru, o som parecia mais martelado. Com uma força no sentir da música. Vê-se que lhe está no sangue. Gostei muito. Tanto do seu modo de interpretar como do seu modo de estar: sincero, um pouco reservado, mas intenso. Vou passar a ouvir mais e a ter mais atenção, porque confesso que não era dos meus favoritos…
E Sassetti? Sassetti… Claramente o que mexe mais comigo. Descontraído, jovial, bem humorado. O elemento de ligação entre Burmester e Laginha, no meu entender. Apresentou uma composição nova, feita para a peça Frei Luís de Sousa. É uma sonoridade que me estimula os sentidos, embriaga a minha alma e aloja-se no meu íntimo de tal modo que fico pendurada na melodia como uma criança que observa pela primeira vez alguém a fazer algodão doce. Como é que aquilo aparece do nada?...

Para quem quiser saber mais:
Burmester: http://www.musica.gulbenkian.pt/?cgi-bin/wnp_db_dynamic_record.pl?dn=db_musica_biographies_pt&sn=musica&orn=324
Laginha: http://www.mariolaginha.org/
Sassetti: http://www.claricehadalittlelamb.net/entrevistas/bs/