A Islândia é um país que, com uma área total um pouco superior à de Portugal (cerca de 100.000 km2, números redondos), tem menos de 320 mil habitantes (cerca de 3% da população portuguesa). E é uma ilha.
Este é um vídeo que retrata o que por lá aconteceu desde
2008, e que vi recentemente a circular no facebook:
É certo que a recente história da Islândia tem aparecido em
círculos muito restritos (assisti, no início deste ano, a dois documentários
muito interessantes sobre este tema, de uma série de quatro escolhidos pela
Apordoc – contavam-se pelos dedos das mãos quantas pessoas assistiram a estas
sessões na sala do Nimas, em Lisboa…)
Mas até que ponto é que, mesmo que aparecesse nos círculos
ditos “normais”, serviria de exemplo para alastrar a outros países? Até que
ponto é que Portugal pode (quer) seguir este exemplo? Ou o resto da Europa?
Não que eu não gostasse de ver este assunto debatido a
sério. Principalmente nas ruas, em tertúlias de pessoas interessadas em mudar
as coisas de facto e não apenas nos canais de informação e debate que, por
vezes, se tornam elitistas (seja por culpa dos que estão do lado de lá dos
media, seja por desinteresse generalizado dos que estão do lado de cá… mas também
não é meu intuito entrar no campo das razões para que isto aconteça).
Voltando ao assunto, e voltando ao que vi nos documentários
sobre a vida quotidiana do povo islandês entre 2008 e 2011, recordo-me
particularmente dos problemas sociais e económicos retratados em “The Future of
Hope”, cujo desenrolar de acontecimentos se focaliza nas ações que
desabrocharam fruto da resiliência de indivíduos e da comunidade em si. Muito
inspirador. Tal como o vídeo que se apresento no início do artigo.
Citando o meu amigo Skopos: “Em The Future of Hope, vemos e ouvimos os
testemunhos de diversos islandeses comuns: um empresário arruinado, um
professor universitário, um agricultor
biológico, pessoas reformadas, jovens. Ouvimo-los em plena crise. E falam dela
com um sorriso, com ideias e com vontade de mudar. Metanoia, já diziam os
gregos: mudança de mentalidade. Limpar a casa, deitar fora o que não interessa.
E participar ativamente no percurso da sociedade.”
Aqui fala-se de sorrisos. E são sorrisos verdadeiros,
sorrisos de alma completa. Sorrisos que resultam de processos interiores muito
fortes: uma mudança deste tipo é algo que é muito trabalhoso e demora a dar resultados
práticos na vida das pessoas, passando, no ponto em que estamos, por processos
muito dolorosos.
Este tipo de mudança não se coaduna, de modo nenhum, com a
perspetiva quase obsessiva de melhorias a curto/médio prazo, muito menos com o “voltar”
ao modo facilitista com que nos habituaram a viver nesta sociedade de consumo.
Tal como já tinha escrito antes, existe atualmente uma muralha de indiferença
apática e generalizada que se gerou com a preguiça mental induzida na sociedade
do crescimento que, sufocantemente, reina nos dias de hoje. E uma inércia muito
forte, uma resistência a mudar, quando essa mudança implica repensar todo um
modo de vida, todo um status quo
instalado…
O vídeo que se segue dá uma ideia de uma das questões mais
prementes hoje em dia: dívida. Nem é preciso compreender todo o texto do artigo onde o encontrei: para bom
entendedor, as imagens são suficientemente esclarecedoras.
Estamos preparados para passar, à nossa escala, por tudo que
os Islandeses passaram e ainda estão a passar?
Eu gostava que houvesse um grupo representativo de pessoas
com capacidade de agir e meios para o fazer a responder SIM a esta questão sem
hesitação. Se aí estiverem, contem comigo.
A alternativa é, a meu ver, igualmente dolorosa, arrastando-se por muito mais tempo e não trazendo resultados tão consolidados.