segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Esperança

Há alturas em que me sinto triste, por dentro e por fora, uma tristeza pesada, densa, desamparada. Já não espero soluções. Grito ao vento em silêncio e não quero quem me responda: apenas preciso de alguém (ou algo) que me ouça as perguntas. Sem juízos. Sem compaixão. Sem piedade. Apenas que esteja presente. Que me escute. Sem retorno.

Nestas alturas, apetece-me enrolar-me toda sobre mim própria, e ficar muito quieta até que passe. São alturas em que sinto que preciso de me deixar afundar, tocar no lodo… para depois arranjar forças para, num impulso, voltar a subir. Sabendo que voltarei a descer, inevitavelmente. Mas com esperança que sejam descidas cada vez mais esporádicas, e cada vez menos fundas. E cada vez com mais força para me impulsionar para cima.

A tristeza é uma coisa muito especial, de tão indefesos que ficamos diante dela. É como uma janela que se abre apenas quando lhe apetece. Mas abre-se um bocadinho menos de cada vez; e um dia, perguntamo-nos o que é que lhe aconteceu.” Arthur Golden

Esta é a minha esperança.

domingo, fevereiro 11, 2007

Caminhadas I


6h30m (sim, da madrugada...) de Domingo (!): alvorada para nos encontrarmos com um grupo de pessoas que não conhecíamos e rumar à margem Sul. Claro que não podia faltar o cafézinho da ordem, até para despertar melhor as mentes e incutir uma energia revitalizante. E às 9h30 já estávamos perto de Alcácer, suficientemente equipados (para a chuva!) e pusémos pés ao caminho...

Sobreiros, planície alentejana, o rio Sado, lama Q.B. ... E chuvinha, ahh, a chuvinha... Daquela que molha os parvos! Mas a nós não!

Às tantas houve alguém que se lembrou: já comia qualquer coisinha...

Paragem para um snack na estação arqueológica Abul e... pés ao caminho novamente.

Ao todo foram 12,5 km bem passados (nem a chuva nos impediu de gozar o passeio), na companhia do que se veio a revelar boa gente, e que acabaram com umas sandochas de chouriço e umas bejecas numa tasquinha.

E ainda deu tempo de ir votar!

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Interrupção Voluntária da Gravidez II

Relativamente ao que escrevi em Outubro apenas altero a minha indecisão em ir votar: vou.

Quanto ao resto, e porque me sinto massacrada com tanto argumento, apenas quero deixar aqui um texto redigido por alguém que conhece os meandros da infertilidade e cuja identidade me permito manter sob o véu do anonimato.

"O Amor por um filho desejado deve ser um sentimento único. A descoberta do Amor por um filho que se teve sem se saber muito bem como nem porquê, deve ser reveladora e gratificante. E a Dor pela perda desse mesmo filho deve ser avassaladora.

E a Dor pela perda de um filho que nunca se teve, que nunca existiu? É uma dor envergonhada, que não se acha no direito de existir. Mas existe… Disfarçada por entre outros sentimentos, mantida ao longe tanto quanto possível, mas vigiada de perto, devido ao incómodo da revelação da sua existência. E presente. Como um grão de areia no sapato. Como uma nota desafinada num instrumento, que se pensa sempre que não vai ser necessária para tocar uma melodia, mas que, quando soa, incomoda.

O que é um facto é que ela está lá. E como lidar com ela? Não há maneira simples. Como em tudo na vida. É fácil tentar escondê-la debaixo de outros sentimentos ditos “mais nobres”, varrê-la para debaixo do tapete, camuflá-la com outros objectivos na vida, mas ela, de quando em vez, espreita. Espreita através do olhar de alguém que sabe o que é o Amor por um filho, através de um gesto de um desconhecido na rua para com o seu petiz, através do tom de voz de um amigo que deixa escapar uma confissão íntima acerca do “seu menino”… E estes breves momentos deixam uma amargo de boca, um nó na garganta, uma sensação de perda e de imensidão perante a nossa pequenez e impotência que é difícil transmitir a quem usufrui dessa dádiva. Até porque se trata de um sentimento envergonhado e, por tal, que se evita partilhar. Porque não há nada a fazer e a pena e o dó dos outros é muito dura de engolir. E quando deixamos que esses sentimentos de pena e dó se apoderem de nós, quando os sentimos por nós próprios, ficamos à deriva, perdemos o Norte, perdemos o rumo, perdemos a direcção. E não avançamos, porque simplesmente não sabemos para onde.


Até que surge na nossa mente o contorno daqueles outros objectivos contidos na nossa vida, que até nos dão algum alento, e, por vezes a custo, lá nos arrastamos novamente para a corrente e deixamo-nos levar…"


A Vida é, por vezes, injusta: uns a lutar por algo que não podem ter, outros a lutar por algo que não querem ter...

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Ser... humano

Quanto mais observo à minha volta, quanto mais atenta estou, quer ao meu exterior quer ao meu interior, mais me apercebo da complexidade do ser humano. Exactamente da perspectiva do verbo, que transmite uma continuidade: a de pertencer à espécie humana.
E considero cada vez mais que não devemos fazer julgamentos. Não devemos julgar medos ou crenças, pensamentos ou actos, por muito que entrem em conflito com o que consideramos ser o nosso próprio modo de ser, os nossos medos, as nossas crenças, o nosso pensamento ou o nosso modo de agir.
Nem a nós próprios devemos julgar
"O Homem só é Homem quando é capitão da sua própria alma". Quantos de nós andam à deriva; quantos de nós têm caminhos por percorrer, cantos insondáveis por descobrir. Quantas vezes nos desconhecemos, desconhecendo esse mesmo facto... Pensando que sabemos quem somos, como pensamos, como agimos. Que temos os nossos medos identificados, que sabemos quais as crenças que nos movem...
Como nos surpreendemos, por vezes, quando nos é revelado um pouco mais do nosso ser, quando conseguimos espreitar um pouco mais além, para o nosso interior: quanto mais haverá ainda por descobrir...
E mais humildes nos devemos tornar perante a diversidade contida no mundo. No mundo dos outros. No nosso mundo.