Relativamente ao que escrevi em Outubro apenas altero a minha indecisão em ir votar: vou.
Quanto ao resto, e porque me sinto massacrada com tanto argumento, apenas quero deixar aqui um texto redigido por alguém que conhece os meandros da infertilidade e cuja identidade me permito manter sob o véu do anonimato.
"O Amor por um filho desejado deve ser um sentimento único. A descoberta do Amor por um filho que se teve sem se saber muito bem como nem porquê, deve ser reveladora e gratificante. E a Dor pela perda desse mesmo filho deve ser avassaladora.
E a Dor pela perda de um filho que nunca se teve, que nunca existiu? É uma dor envergonhada, que não se acha no direito de existir. Mas existe… Disfarçada por entre outros sentimentos, mantida ao longe tanto quanto possível, mas vigiada de perto, devido ao incómodo da revelação da sua existência. E presente. Como um grão de areia no sapato. Como uma nota desafinada num instrumento, que se pensa sempre que não vai ser necessária para tocar uma melodia, mas que, quando soa, incomoda.
O que é um facto é que ela está lá. E como lidar com ela? Não há maneira simples. Como em tudo na vida. É fácil tentar escondê-la debaixo de outros sentimentos ditos “mais nobres”, varrê-la para debaixo do tapete, camuflá-la com outros objectivos na vida, mas ela, de quando em vez, espreita. Espreita através do olhar de alguém que sabe o que é o Amor por um filho, através de um gesto de um desconhecido na rua para com o seu petiz, através do tom de voz de um amigo que deixa escapar uma confissão íntima acerca do “seu menino”… E estes breves momentos deixam uma amargo de boca, um nó na garganta, uma sensação de perda e de imensidão perante a nossa pequenez e impotência que é difícil transmitir a quem usufrui dessa dádiva. Até porque se trata de um sentimento envergonhado e, por tal, que se evita partilhar. Porque não há nada a fazer e a pena e o dó dos outros é muito dura de engolir. E quando deixamos que esses sentimentos de pena e dó se apoderem de nós, quando os sentimos por nós próprios, ficamos à deriva, perdemos o Norte, perdemos o rumo, perdemos a direcção. E não avançamos, porque simplesmente não sabemos para onde.
Até que surge na nossa mente o contorno daqueles outros objectivos contidos na nossa vida, que até nos dão algum alento, e, por vezes a custo, lá nos arrastamos novamente para a corrente e deixamo-nos levar…"
A Vida é, por vezes, injusta: uns a lutar por algo que não podem ter, outros a lutar por algo que não querem ter...
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